2º DOMINGO DO ADVENTO ANO A dezembro 2013 - IMACULADA CONCEIÇÃO
Tema: IMACULADA CONCEIÇÃO “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus.”
A liturgia convida-nos a acolher, como Maria, com um coração aberto os planos de Deus.
Primeira leitura: mostra (Adão e Eva) o que acontece quando rejeitamos as propostas de Deus e preferimos caminhos de egoísmo, de orgulho e de autossuficiência; sofrimento e morte.
Evangelho: Maria ao contrário de Adão e Eva, Maria rejeitou o orgulho, o egoísmo e a autossuficiência e preferiu os planos de Deus; salvação e vida plena para ela e para o mundo.
Segunda leitura: Deus tem um projeto de vida plena para cada pessoa. É Jesus que apresenta este projeto e exige uma resposta firme.
6. PRIMEIRA LEITURA (Gn 3,9-15.20) Leitura do Livro do Gênesis
O Senhor Deus chamou Adão, dizendo: “Onde estás?” E ele respondeu: “Ouvi tua voz no jardim e fiquei com medo porque estava nu; e me escondi”. Disse-lhe o Senhor Deus: “E quem te disse que estavas nu? Então comeste do fruto da árvore de cujo fruto te proibi comer? Adão disse: “A mulher que tu me deste por companheira, foi ela que me deu do fruto da árvore, e eu comi”. Disse o Senhor Deus à mulher: “Por que fizeste isso?” E a mulher respondeu: “A serpente me enganou e eu comi”. Então o Senhor Deus disse à serpente: “Porque fizeste isso, serás maldita entre todos os animais domésticos e todos os animais selvagens! Rastejarás sobre o ventre e comerás pó todos os dias de tua vida! Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”. E Adão chamou à sua mulher “Eva”, porque ela é a mãe de todos os viventes.
AMBIENTE - O relato jahwista de Gn 2,4b-3,24 sobre as origens da vida e do pecado é um texto do séc. X a.C., na época do rei Salomão. Não é reportagem jornalística. Não é científica ou histórica, mas teológica: mais do que ensinar como o mundo e o homem apareceram, ele quer dizer-nos que na origem da vida e do homem está Jahwéh e que na origem do mal e do pecado estão as opções erradas do homem. É uma catequese.
Na primeira parte apresenta a criação como um espaço de felicidade, onde tudo é bom e o homem vive em comunhão total com o criador e com criaturas. Na segunda parte descreve o pecado do homem e da mulher; mostra como as opções erradas introduziram desequilíbrio e de morte. Na terceira parte (cf. Gn 3,8-24), as consequências para toda a criação; o homem livre e feliz fez escolhas erradas e introduziu sofrimento e de morte. O nosso texto pertence à terceira parte.
MENSAGEM - Deus descobre todos os fatos. Deus pergunta ao homem: “onde estás?” A resposta já é uma confissão de culpa: “como estava nu, tive medo e escondi-me”. A vergonha e o medo são sinal de uma perturbação interior, uma ruptura com a harmonia, de serenidade e de paz. Como? Desobedecendo a Deus. A segunda pergunta feita por Deus é retórica: “terias tu comido dessa árvore, da qual te proibira de comer?”. A “árvore do conhecimento do bem e do mal” – significa o orgulho, a autossuficiência, o prescindir de Deus e das suas propostas, o querer decidir por si só o que é bem e o que é mal, o pôr-se a si próprio em lugar de Deus, o reivindicar autonomia total em relação ao criador. É evidente que o homem “comeu da árvore proibida” – isto é, escolheu um caminho de orgulho e de autossuficiência em relação a Deus. Daí a vergonha e o medo. Ao defender-se, acusa a mulher e, ao mesmo tempo, acusa o próprio Deus (“a mulher que me deste por companheira deu-me do fruto da árvore e eu comi”. Adão representa a humanidade no egoísmo e na autossuficiência, que esqueceu os dons de Deus e vê em Deus um adversário; se instalou na covardia, na falta de solidariedade, no ódio. Escolher caminhos contrários aos de Deus é uma ruptura com Deus e com os irmãos.
Vem, depois, a “defesa” da mulher: “a serpente enganou-me e eu comi”. Entre os povos cananeus, a serpente estava ligada aos rituais de fertilidade e de fecundidade. Os israelitas abandonavam Jahwéh para seguir os rituais dos cananeus e assegurar a fecundidade dos campos e dos rebanhos. a serpente era, pois, o “fruto proibido”, que seduzia os crentes e os levava a abandonar a Lei de Deus. A “serpente” é, neste contexto, um símbolo literário de tudo aquilo que afastava os israelitas de Jahwéh. A resposta da “mulher” confirma que a humanidade prescindiu de Deus, ignorou as suas propostas. Achou, no seu egoísmo e autossuficiência, que podia encontrar a verdadeira vida à margem de Deus. Aí está a culpa de uma humanidade que pensou poder ser feliz em caminhos de egoísmo e de autossuficiência, à margem de Deus. Deus condena como falsos e enganosos esses cultos e essas tentações que seduziam os israelitas e os colocavam fora da dinâmica da Aliança e dos mandamentos. O nosso catequista jahwista sabe que a serpente é um animal miserável, que passa sua existência mordendo o pó da terra. O autor vai servir-se deste dado para pintar a condenação de tudo aquilo que leva os homens a afastar-se dos caminhos de Deus e a enveredar por caminhos de egoísmo e de autossuficiência. O que é que significa a inimizade e a luta entre a “descendência” da mulher e a
“descendência” da serpente? A interpretação judaica e cristã viu nestas palavras uma profecia messiânica: Deus anuncia que um “filho da mulher” (o Messias) acabará com as consequências do pecado e inserirá a humanidade numa dinâmica de graça.
Atenção: o autor sagrado não está falando de um pecado cometido nos primórdios da humanidade pelo primeiro homem e pela primeira mulher; mas está falando do pecado cometido por todos de todos os tempos… Ele está apenas ensinando que a raiz de todos os males está no fato de o homem prescindir de Deus e construir o mundo a partir de critérios de egoísmo e de autossuficiência.
ATUALIZAÇÃO
f O MAL vem de Deus, ou vem do homem? O mal nunca vem de Deus… Deus criou-nos para a vida e para a felicidade e deu-nos todas as condições para a felicidade plena.
f O mal resulta das nossas escolhas erradas, do nosso orgulho, do nosso egoísmo e autossuficiência. Quando o homem escolhe viver orgulhosamente só, ignorando as propostas de Deus e prescindindo do amor, constrói cidades de egoísmo, de injustiça, de prepotência, de sofrimento, de pecado…
f O caminhar longe de Deus leva o homem ao confronto e à hostilidade. Nasce, então, a injustiça, a exploração, a violência. As pessoas deixam de ser irmãos para passarem a ser ameaças ao próprio bem-estar, aos próprios interesses.
f Prescindir de Deus significa construir uma história de inimizade com o resto da criação. A natureza deixa de ser a casa comum a todos os homens como espaço de vida e de felicidade, para se tornar algo que eu uso e exploro em meu proveito próprio, sem considerar a sua dignidade, beleza e grandeza. Jesus nos apresentou o plano do Pai. Aprendemos com Ele a amar sem exceção e com radicalidade?
7. SALMO RESPONSORIAL 97 (98)
Cantai ao Senhor Deus um canto novo, porque ele fez prodígios!
• Cantai ao Senhor Deus um canto novo, / porque ele
fez prodígios! / Sua mão e seu braço forte e santo / alcançaram-lhe a vitória.
• O Senhor fez conhecer a salvação, / e às nações, sua
justiça; / recordou o seu amor sempre fiel / pela casa de Israel
• Os confins do universo contemplaram / a salvação do
nosso Deus. / Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira, / alegrai-vos e exultai!
10. EVANGELHO (Lc 1,26-38) Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
Naquele tempo, no sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem, prometida em casamento a um homem chamado José. Ele era da descendência de Davi e o nome da virgem era Maria. O anjo entrou onde ela estava e disse: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” Maria ficou perturbada com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação. O anjo, então, disse-lhe: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi. Ele reinará para sempre sobre os descendentes de seu pai Jacó, e o seu reino não terá fim”. Maria perguntou ao anjo: “Como acontecerá isso, se eu não conheço homem algum?” O anjo respondeu: “O Espírito virá sobre ti, e o poder do
Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso, o menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus. Também
Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice. Este já é o sexto mês daquela que era considerada estéril, porque para Deus nada é impossível”. Maria, então, disse: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra!” E o anjo retirou-se.
AMBIENTE - O texto pertence a um gênero literário chamado homologese. Este gênero não pretende ser um relato jornalístico e histórico de acontecimentos; mas é, sobretudo, uma catequese destinada a proclamar certas realidades salvíficas (que Jesus é o Messias, que Ele vem de Deus, que Ele é o “Deus conosco”). A homologese utiliza e mistura tipologias (fatos e pessoas do Antigo Testamento, encontram a sua correspondência em fatos e pessoas do Novo Testamento) e aparições apocalípticas (anjos, aparições, sonhos) para fazer avançar a narração e para explicitar determinada catequese sobre Jesus. Não interessa estar à procura de fatos históricos; interessa os ensinamentos sobre Jesus. A Galileia era considerada pelos judeus uma terra em permanente contato com as populações pagãs e onde se praticava uma religião heterodoxa, influenciada pelos costumes e pelas tradições pagãs. Daí a convicção dos mestres judeus de Jerusalém de que “da Galileia não pode vir nada de bom”. Quanto a Nazaré, era uma aldeia pobre e ignorada, completamente à margem dos caminhos de Deus e da salvação. Maria era “uma virgem desposada com um homem chamado José”. O casamento hebraico considerava o compromisso matrimonial em duas etapas: havia uma primeira fase, na qual os noivos se prometiam um ao outro (os “esponsais”); só numa segunda fase surgia o compromisso definitivo (as cerimônias do matrimônio propriamente dito)… Entre os “esponsais” e o rito do matrimônio, passava um tempo mais ou menos longo, durante o qual qualquer uma das partes podia voltar atrás, mas sofrendo
uma penalidade. Durante os “esponsais”, os noivos não viviam em comum; mas o compromisso que os dois assumiam tinha já um caráter estável, de tal forma que, se surgia um filho, este era considerado filho legítimo de ambos. A Lei de Moisés considerava a infidelidade da “prometida” como uma ofensa semelhante à infidelidade da esposa. E a união entre os dois “prometidos” só podia dissolver se com a fórmula jurídica do divórcio. José e Maria estavam, portanto, na situação de “prometidos”: ainda não tinham celebrado o matrimônio, mas os “esponsais”.
MENSAGEM - O termo “ave” com que o anjo se dirige a Maria, é mais do que uma saudação: é o eco dos anúncios de salvação à “filha de Sião”. A expressão “cheia de graça” significa que Maria é objeto da predileção e do amor de Deus. A outra expressão “o Senhor está contigo” é uma expressão que aparece com frequência ligada aos relatos de vocação no Antigo Testamento (vocação de Moisés; de Gedeão; de Jeremias) e que serve para assegurar ao “chamado” a assistência de Deus na missão que lhe é pedida. A visita do anjo destina-se a apresentar à jovem de Nazaré uma proposta de Deus. Essa proposta vai exigir uma resposta clara de Maria. Deus propõe que aceite ser a mãe de um “filho” especial, que ele se chamará “Jesus”. O nome significa “Deus salva”. Além disso, esse “filho” é apresentado pelo anjo como o “Filho do Altíssimo”, que herdará “o trono de seu pai David” e cujo reinado “não terá fim”. As palavras do anjo levam-nos à promessa feita por Deus ao rei David através das palavras do profeta Nathan; o “messias” libertador. O que é proposto a Maria é, pois, que ela aceite ser a mãe desse “messias” que Israel esperava, o libertador enviado por Deus ao seu Povo para lhe oferecer a vida e a salvação definitivas. Como Maria responde? A resposta começa com uma objeção… A objeção faz sempre parte dos relatos de vocação do Antigo Testamento (cf. Ex 3,11; 6,30; Is 6,5; Jer 1,6). É uma reação natural de um “chamado”, assustado com a perspectiva do compromisso com algo que o ultrapassa; mas é, sobretudo, uma forma de mostrar a grandeza e o poder de Deus que, apesar da fragilidade e das limitações dos “chamados”, faz deles instrumentos da sua salvação no meio dos homens e do mundo. Diante da “objeção”, o anjo garante a Maria que o Espírito Santo virá sobre ela e a cobrirá com a sua sombra. Este Espírito é o mesmo que foi derramado sobre os juízes; Gedeão; Jefté; Sansão, sobre os reis; David, sobre os profetas; os anciãos de Israel; Ezequiel, a fim de que eles pudessem ser uma presença eficaz da salvação de Deus no meio do mundo.
A “sombra” ou “nuvem” leva-nos, também, à “coluna de nuvem” que acompanhava a caminhada do Povo de Deus em marcha pelo deserto, indicando o caminho para a Terra Prometida da liberdade e da vida nova.
A questão é a seguinte: apesar da fragilidade de Maria, Deus vai, através dela, fazer-se presente no mundo para oferecer a salvação a todos os homens. O relato termina com a resposta final de Maria: “eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”. Afirmar-se como “serva” significa, mais do que humildade, reconhecer que se é um eleito de Deus e aceitar essa eleição, com tudo o que ela implica – pois, no Antigo Testamento, ser “servo do Senhor” é um título de glória, reservado àqueles que Deus escolheu, que ele reservou para o seu serviço e que ele enviou ao mundo com uma missão. Desta forma, Maria reconhece que Deus a escolheu, aceita com disponibilidade essa escolha e manifesta a sua disposição de cumprir, com fidelidade, o projeto de Deus.
ATUALIZAÇÃO
f Deus ama os homens e tem um projeto de vida plena para lhes oferecer. A história de Maria responde, de forma clara, a esta questão: é através de homens e mulheres atentos aos projetos de Deus que Deus atua no mundo, que Ele manifesta aos homens o seu amor, que Ele convida cada pessoa a percorrer os caminhos da felicidade e da realização plena. é através dos nossos gestos de amor, de partilha e de serviço que Deus transforma o mundo.
f Os instrumentos de que Deus: Maria era uma jovem de uma aldeia dessa “Galileia dos pagãos” de onde não podia “vir nada de bom”. Apesar disso, foi escolhida por Deus para desempenhar um papel primordial na etapa mais significativa na história da salvação. A história de Maria deixa claro que, na perspectiva de Deus, não são o poder, a riqueza, a importância ou a visibilidade social que determinam a capacidade para levar a cabo uma missão. Deus age através de homens e mulheres, independentemente das suas qualidades humanas. O que é decisivo é a disponibilidade e o amor com que se acolhem e testemunham as propostas de Deus.
f Confrontada com os planos de Deus, Maria responde com um “sim” total e incondicional. Naturalmente, ela tinha o seu programa de vida e os seus projetos pessoais; mas, diante do apelo de Deus, esses projetos pessoais passaram naturalmente e sem dramas a um plano secundário. Na atitude de Maria não há qualquer sinal de egoísmo, de comodismo, de orgulho, mas há uma entrega total nas mãos de Deus e um acolhimento radical dos caminhos de Deus. Que atitude assumimos
diante dos projetos de Deus: acolhemo-los sem reservas, com amor e disponibilidade, numa atitude de entrega total a Deus?
f É possível alguém entregar-se tão cegamente a Deus, sem reservas, sem medir os prós e os contras? Naturalmente, não se chega a esta confiança cega em Deus e nos seus planos sem uma vida de diálogo, de comunhão, de intimidade com Deus. Maria de Nazaré foi, certamente, uma mulher para quem Deus ocupava o primeiro lugar e era a prioridade fundamental. Maria de Nazaré foi, certamente, uma pessoa de oração e de fé, que fez a experiência do encontro com Deus e aprendeu a confiar totalmente n’Ele.
8. SEGUNDA LEITURA (Ef 1,3-6.11-12) Leitura da Carta de São Paulo aos Efésios
Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele nos abençoou com toda bênção do seu Espírito em virtude de nossa união com Cristo, no céu. Em Cristo, ele nos escolheu, antes da fundação do mundo, para que sejamos santos e irrepreensíveis sob seu olhar, no amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por intermédio de Jesus Cristo, conforme a decisão de sua vontade, para o louvor de sua glória e da graça com que ele nos cumulou no seu Bem-amado. Nele também nós recebemos a nossa parte. Segundo o projeto daquele que conduz tudo conforme a decisão de sua vontade, nós fomos predestinados a sermos, para o louvor de sua glória, os que de antemão colocaram a sua esperança em Cristo.
AMBIENTE - Estamos por volta dos anos 58/60. Alguns vêem nesta carta uma espécie de síntese da teologia paulina, numa altura em que a missão do apóstolo está praticamente terminada no oriente. O texto que nos é hoje proposto aparece no início da carta. É parte de um hino litúrgico que deve ter circulado nas comunidades cristãs antes de ser enxertado aqui por Paulo. Este hino dá graças pela ação do Pai (cf. Ef 1,3-6), do Filho (cf. Ef 1,7-12) e do Espírito Santo (cf. Ef 1,13-14) no sentido de oferecer aos homens a salvação.
MENSAGEM - A ação de graças dirige-se a Deus, pois Ele é a fonte última de todas as graças concedidas aos homens. Essas graças atingiram os homens através do Filho, Jesus Cristo.
O Pai, no seu amor, elegeu-nos desde sempre “para sermos santos e irrepreensíveis “Santo” indica alguém que foi separado e consagrado a Deus, para o serviço de Deus; a palavra “irrepreensível” era usada para falar das vítimas oferecidas em sacrifício a Deus, que deviam ser imaculadas e sem defeito… Significa, pois, uma santidade (isto é, uma consagração a Deus) verdadeira e radical. Além de nos eleger, o Pai predestinou-nos “para sermos seus filhos adotivos”. Através de Cristo, o Pai ofereceu-nos a sua vida e integrou-nos na sua família na qualidade de filhos. O fim desta ação de Deus é o louvor da sua glória. “Eleição” e “adoção como filhos” resultam do imenso amor de Deus pelos homens – um amor que é gratuito, incondicional e radical. A morte de Jesus na cruz é o sinal evidente do amor de Deus pelos homens; e dessa forma, Deus ensinou-nos a viver no amor, no amor total e radical. Através de Cristo, Deus derramou sobre nós a sua graça, tornando-nos pessoas novas e diferentes, capazes de viver no amor. Assim, Deus manifestou-nos o seu projeto de salvação
e que consiste em levar-nos a uma identificação plena com Jesus (na sua ilimitada capacidade de amar e de dar vida), a uma unidade e harmonia totais com Jesus. Identificando-nos com Cristo e ensinando-nos a viver no amor total e radical, Deus reconciliou-nos consigo, com todos os outros e com a própria natureza. Da ação redentora de Cristo nasceu, pois, um Homem Novo, capaz de um novo tipo de relacionamento (não marcado pelo egoísmo, pelo orgulho, pela auto-suficiência, mas marcado pelo amor e pelo dom da vida) com Deus, com os outros homens e mulheres e com toda a criação. Dessa forma (e voltamos agora a retomar o texto que a liturgia deste dia nos propõe), em Cristo fomos constituídos filhos de Deus e herdeiros da salvação, conforme o projeto de Deus preparado desde toda a eternidade em nosso favor (vers. 11-12).
ATUALIZAÇÃO
f Deus tem um projeto de vida plena e total para os homens, um projeto que desde sempre esteve na mente de Deus. É muito importante termos isto em conta: não somos um acidente de percurso na evolução inexorável do cosmos, mas somos atores principais de uma história de amor que o nosso Deus sempre sonhou e que Ele quis escrever e viver conosco. No meio dos nossos sofrimentos, da nossa finitude, não esqueçamos que somos filhos amados de Deus, a quem Ele oferece a vida definitiva, a verdadeira felicidade.
f O nosso texto afirma, ainda, a centralidade de Cristo nesta história de amor. Jesus veio ao nosso encontro, cumprindo com radicalidade a vontade do Pai e oferecendo-se até à morte para nos ensinar a viver no amor.
Pe. Joaquim - Pe. Barbosa - Pe. Carvalho
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Solenidade da Imaculada Conceição
Homilia de D. Henrique Soares:
O tempo do Advento tem, sem dúvida alguma, um sabor mariano. É com a Virgem que melhor aprendemos como esperar o Sol que nasce da Aurora, o Cristo, nosso Deus! Por isso, é muito conveniente celebrar hoje a Solenidade da Imaculada Conceição de Maria, a Virgem.
O que a Igreja crê e celebra neste mistério? A Escritura Santa nos ensina que a humanidade fora criada por Deus para a comunhão com ele, para ser feliz convivendo com ele, com ele construindo a vida e o mundo. Mas, infelizmente, desde o início da história humana e até hoje, nossa raça foi dizendo “não” ao sonho de Deus: quisemos e queremos ainda ser como deuses, conhecedores do bem e do mal (cf. Gn 3,4s); queremos viver a vida de modo autônomo, como se a existência fosse nossa e não um dom recebido de Deus. Se não dizemos, pensamos muitas vezes: a vida é minha; faço como eu quero! O resultado dessa atitude tem sido trágico: tornamo-nos uma humanidade ferida, esfacelada, num mundo também ferido e esfacelado. Somos todos presa de um enorme fechamento para Deus, uma desconfiança nele, uma tendência de não percebê-lo… por isso, somos profundamente desequilibrados no nosso modo de nos ver, de ver a vida, de nos relacionar com os outros e com o mundo. Somos um poço de contradições, de paixões, de anseios desencontrados e sentimentos muitas vezes destrutivos… Somos, pois, profundamente feridos; feridos de morte, feridos até a morte! É esta situação miserável que a Igreja denomina “pecado original”, pecado que já nos marca desde o primeiro momento de nossa existência: “Minha mãe já concebeu-me pecador” (Sl 50,7). É desta situação miserável, sem saída, que Cristo nos arranca com a sua encarnação, sua vida, sua morte e ressurreição, com o dom do seu Espírito: “Todos pecaram e estão privados da glória de Deus e são justificados gratuitamente em virtude da redenção realizada por Jesus Cristo” (Rm 3,23s).
Pois bem, a Igreja crê firmemente que a Toda Santa Virgem Maria, desde o primeiro momento em que foi concebida no seio de sua mãe, foi preservada por Deus desta solidariedade com esta situação de pecado. Nós, já nascemos marcados de morte; ela, desta marca de pecado foi preservada; nós, precisamos ser arrancados da lama do pecado graças à cruz do Cristo; ela, pela cruz do Cristo foi liberta desde a origem e sequer foi tocada por esta lama maldita; nós fomos redimidos porque lavados desta lama, ela, foi ainda mais perfeitamente redimida porque, pelos méritos da Paixão do Senhor, sequer experimentou esta situação de pecaminosidade. Desde o ventre materno, desde o primeiro instante de sua concepção, o Senhor a libertou, graças aos méritos de Cristo. Ela, a Virgem, pode ser chamada Toda Santa, isto é, Toda Santificada, ela pode cantar as palavras da profecia de Isaías: “Com grande alegria rejubilo-me no Senhor, e minha alma exultará no meu Deus, pois me vestiu de justiça e salvação, como a noiva ornada de suas jóias!”
A Igreja crê nesta Concepção Imaculada da Mãe de Jesus e com ela se alegra. E crê fundamentada na Escritura Sagrada. Não á a Palavra de Deus que afirma que o Senhor colocou uma inimizade de morte entre a Serpente e a Mulher, entre a descendência de Serpente e a da Mulher? Quem é esta Mulher? Não é aquela a quem Jesus chama Mulher em Caná e ao pé da cruz? Não é aquela de quem São Paulo diz: “Quando chegou a plenitude dos tempos, enviou Deus o seu Filho nascido de Mulher? Como, pois, poderia estar sob o domínio do pecado, fruto da serpente, a Mulher de quem nasceria o Cordeiro sem mancha, que tira o pecado do mundo? Estejamos atentos ainda no modo como Gabriel saudou a Virgem,
no Evangelho: ele lhe muda o nome! Não diz”: alegra-te, Maria!”, mas “Alegra-te, Cheia de Graça!” Cheia de graça, kecharitomene, do verbo charitô, agraciar. Alegra-te, ó Toda Cumulada Pela Graça, Alegra-te, ó Mar de Graça, ó possuída totalmente pela graça! Em ti, Virgem Maria, não há o mínimo lugar, a mínima brecha para a “des-graça” do pecado! – É isto que significam as palavras de Gabriel! Podem crer: Deus juntou toda água um dia e chamou de mar; Deus juntou toda graça outro dia… e chamou Maria!
A Virgem não é dona da graça; ela a recebeu totalmente. A Virgem não é imaculada por seus próprios méritos, mas pelos méritos daquele que, nascido de suas entranhas benditas, venceu a antiga Serpente e destruiu o antigo Inimigo. Observemos que esta idéia aparece na segunda leitura da Missa desta solenidade. O que diz o Apóstolo? O Pai “nos escolheu em Cristo, antes da fundação do mundo, para que sejamos santos e irrepreensíveis sob o seu olhar, no amor. Ele nos predestinou… por intermédio de Jesus Cristo (Ef 1,4s). Se todos somos fruto de um sonho eterno de Deus, se todos somos predestinados em Cristo desde antes da fundação do mundo, se o Senhor conheceu nossos dias antes mesmo que um só deles existisse, pois bem: em Cristo, Deus, o Pai, preservou a Mãe do seu Filho do pecado, graças ao seu Filho! Que nossos irmãos protestantes se alegrem conosco pela Imaculada Conceição de Maria: ela é bíblica, ela exalta enormemente a grandeza abundante da graça de Cristo, único Salvador! São Paulo diz que “todos pecaram e estão privados da glória de Deus”; assim estaria a Virgem sem a graça de Cristo; mas, disso foi libertada no primeiro momento de sua existência, graças a Cristo!
Esta é a beleza desta festa: o triunfo da graça, celebrar a graça de Cristo que age antes mesmo do nascimento histórico de Cristo! Que graça tão grande, que Salvador tão potente, que Deus tão previdente! E para nós, que alegria contemplar o mistério, vislumbrar o mistério, mergulhar no mistério! Hoje, a Virgem foi concebida livre do pecado; hoje, começou a raiar a Aurora do Dia sem fim; hoje surgiu a puríssima Estrela d’Alva que anuncia o Sol, que é o Cristo, nosso Deus! A Igreja, exultante de alegria, tem palavras lindas na celebração litúrgica deste hoje. No Ofício Divino, ela assim se dirige à Virgem Toda Santa: “Com a vossa Imaculada Conceição, Virgem Maria, um anúncio de alegria percorreu o mundo inteiro” e, mais adiante, no Ofício, continua, admirada: “Toda bela sois, Virgem Maria, sem mancha original! Sois a glória de Sião, a alegria de Israel e a flor da humanidade”. E, imaginando a resposta da Virgem, coloca nos seus lábios estas palavras que ela dirige ao Senhor: “Foi nisto que eu vi, porque vós me escolhestes! Porque não triunfou sobre mim o inimigo, porque vós me escolhestes!” Isso mesmo: mais que ninguém, a Virgem é devedora a Cristo: ele a escolheu, ele a preservou, ele a sustentou, ele teve por ela uma predileção inigualável!
Alegremo-nos nós também! Em Cristo, o pecado pode ser vencido! A Conceição Imaculada de Maria é sinal belíssimo desta vitória! Alegremo-nos, porque a Imaculada Conceição de Nossa Senhora é o feliz princípio e o primeiro albor da salvação que o Senhor Jesus nos traz! Bendita seja a cruz de Jesus, que antes de ser fincada no Calvário, já libertou com seus raios a Virgem de todo pecado! A Jesus, fruto bendito, do bendito ventre da bendita Virgem Maria, a glória pelos séculos dos séculos. Amém.
============---------------========== Cheia de Graça =========
Nesse tempo de Advento, a caminho do Natal de Jesus, somos convidados a olhar para Maria, a IMACULADA, e reconhecer nela o modelo de como acolher Jesus, que está chegando.
As leituras nos falam de duas Mulheres: Eva e Maria e do Plano de Deus, no qual Maria foi inserida:
A 1a Leitura nos apresenta o episódio do Pecado Original: A vitória da Mulher e de sua descendência contra a serpente (Gn 3, 9-15)
Esse texto não devemos tomá-lo ao pé da letra. Com ele o autor sagrado quer explicar a origem do mal no mundo. Ele vê ao redor de si a opressão, as injustiças e violências.
Será que foi esse o mundo criado por Deus?
A resposta é dada por imagens que devem ser interpretadas:
- Foi comido um fruto proibido:
O homem não aceitou sua condição de criatura e tomou o lugar de Deus.
- Essa autossuficiência é comparada a uma serpente que nos dá uma idéia falsa de Deus e nos leva a escolher o mal.
- A "nudez" (a condição de criatura) maravilhosa no corpo e na mente, depois do pecado, começa a causar vergonha.
- O homem não está no seu lugar: não considera mais Deus um amigo com o qual passeia no jardim e passa a vê-
lo como adversário e o evita (se esconde).
- O pecado rompe a confiança entre as pessoas: Adão acusa Eva; Eva culpa a serpente...
- A Luta entre a "serpente" e o homem continuará até o fim do mundo, mas a descendência da mulher prevalecerá e esmagará a cabeça da serpente.
A 2ª Leitura é um Hino de louvor a Deus pelas maravilhas por ele realizadas em favor dos homens. (Ef 1,3-6;11-12)
No Evangelho, a saudação do anjo a Maria nos faz entender quem é o Filho de Maria (Lc 1,26-38)
O texto não um relato histórico, mas uma CATEQUESE, destinada a proclamar certas realidades salvíficas:
- O Anúncio do nascimento de um menino é freqüente na Bíblia e revela que ele é um dom de Deus...
- O Messias é pobre entre os pobres: Num povoado desconhecido da Galiléia...
A uma mulher virgem (para uma mulher judia não ter filhos era uma vergonha)
- O Diálogo do anjo a Maria:
> "Ave Cheia de Graça": A Voz dos profetas na boca do anjo: Realizam-se todas as promessas: "Uma Virgem conceberá..."
> Troca o nome: "Cheia de Graça": Quando Deus troca o nome, destina a uma missão.
> Anúncio do nascimento confirma a profecia feita a Davi: Jesus é o Messias esperado, cujo reino será eterno.
> Sobre Maria pousou a "sombra" do Altíssimo: O próprio Deus se tornou presente nela.
É uma profissão de fé na divindade do filho de Maria.
> "Eis aqui a serva...": Maria reconhece que Deus a escolheu, aceita com disponibilidade essa escolha e manifesta sua disposição de cumprir, com fidelidade o Plano de Deus;.
+ O que esta festa nos diz?
- Deus ama os homens e tem um projeto de vida plena para lhes oferecer.
- Como Deus intervém na história e concretiza essa oferta de salvação?
A história de Maria responde:
Através de pessoas atentas aos seus projetos e de coração disponível para o serviço dos irmãos,
Deus atua no mundo, manifesta aos homens o seu amor e convida cada pessoa a percorrer os caminhos da felicidade e da realização plena.
- Os instrumentos de Deus na realização de seus planos?
Deus age através de pessoas, independentemente de suas qualidades humanas.
O que é decisivo é a disponibilidade e o amor com que acolhem e testemunham as propostas de Deus.
- Como responder aos apelos de Deus?
Confrontada com os planos de Deus, Maria responde com um "Sim" total e incondicional, renunciando seu programa de vida e os seus projetos pessoais.
- Como Maria chegou a esta confiança incondicional em Deus?
. Com uma vida de diálogo, de comunhão, de intimidade com Deus.
. Deus ocupava o primeiro lugar e era a sua prioridade fundamental.
. Era uma pessoa de oração e de fé, que fez a experiência do encontro com Deus e aprendeu a confiar totalmente nele.
* No meio da agitação de todos os dias, encontro tempo e disponibilidade para ouvir Deus, para viver em
comunhão com ele, para tentar perceber os seus sinais nas indicações que ele me dá dia a dia?
Como você está se preparando para o Natal? Imitar Maria na sua fidelidade à Vontade de Deus, é o melhor caminho para um Natal mais cristão... Pe. Antônio G.
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PARA A CELEBRAÇÃO DA PALAVRA:
LOUVOR: (QUANDO O PÃO CONSAGRADO ESTIVER SOBRE O ALTAR)
à COM JESUS, POR JESUS E EM JESUS,NA FORÇA DO ESPÍRITO SANTO, LOUVEMOS AO PAI:
T: Alegres aguardamos o renascer de Vosso Filho em nossos corações.
à Senhor, nosso Deus e Pai, nós vos louvamos pela vossa bondade. Desde o começo do mundo vos revelastes Deus de amor e por meio dos profetas alimentastes nossa esperança de nos enviar o Salvador. Hoje celebramos a imaculada conceição de Maria, A Nova Eva, a Mãe da nova Criação. Pai, que o renascer de vosso Filho entre nós, nos transforme.
T: Alegres aguardamos o renascer de Vosso Filho em nossos corações.
à Senhor, nosso Deus, bendito seja o Vosso nome sobre em todo o universo. Grande é vosso amor nos enviando vosso Filho para nos guiar ao Vosso Reino. Pai, agradecemos pela nossa vida, pelo nosso batismo e pela esperança da vida eterna.
T: Alegres aguardamos o renascer de Vosso Filho em nossos corações.
à Senhor, nosso Deus e Pai, enviai o Espírito Santo sobre nós, para que nos transformemos e tenhamos força e coragem de levar vosso nome a todos os nossos irmãos que não vos conhecem ou que vos abandonaram. Que o Cristo que renasce seja luz de justiça, de paz, de amor para todos os povos.
T: Alegres aguardamos o renascer de Vosso Filho em nossos corações.
à PAI NOSSO... Paz... Cordeiro de Deus...
Tema: IMACULADA CONCEIÇÃO “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus.”
A liturgia convida-nos a acolher, como Maria, com um coração aberto os planos de Deus.
Primeira leitura: mostra (Adão e Eva) o que acontece quando rejeitamos as propostas de Deus e preferimos caminhos de egoísmo, de orgulho e de autossuficiência; sofrimento e morte.
Evangelho: Maria ao contrário de Adão e Eva, Maria rejeitou o orgulho, o egoísmo e a autossuficiência e preferiu os planos de Deus; salvação e vida plena para ela e para o mundo.
Segunda leitura: Deus tem um projeto de vida plena para cada pessoa. É Jesus que apresenta este projeto e exige uma resposta firme.
6. PRIMEIRA LEITURA (Gn 3,9-15.20) Leitura do Livro do Gênesis
O Senhor Deus chamou Adão, dizendo: “Onde estás?” E ele respondeu: “Ouvi tua voz no jardim e fiquei com medo porque estava nu; e me escondi”. Disse-lhe o Senhor Deus: “E quem te disse que estavas nu? Então comeste do fruto da árvore de cujo fruto te proibi comer? Adão disse: “A mulher que tu me deste por companheira, foi ela que me deu do fruto da árvore, e eu comi”. Disse o Senhor Deus à mulher: “Por que fizeste isso?” E a mulher respondeu: “A serpente me enganou e eu comi”. Então o Senhor Deus disse à serpente: “Porque fizeste isso, serás maldita entre todos os animais domésticos e todos os animais selvagens! Rastejarás sobre o ventre e comerás pó todos os dias de tua vida! Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”. E Adão chamou à sua mulher “Eva”, porque ela é a mãe de todos os viventes.
AMBIENTE - O relato jahwista de Gn 2,4b-3,24 sobre as origens da vida e do pecado é um texto do séc. X a.C., na época do rei Salomão. Não é reportagem jornalística. Não é científica ou histórica, mas teológica: mais do que ensinar como o mundo e o homem apareceram, ele quer dizer-nos que na origem da vida e do homem está Jahwéh e que na origem do mal e do pecado estão as opções erradas do homem. É uma catequese.
Na primeira parte apresenta a criação como um espaço de felicidade, onde tudo é bom e o homem vive em comunhão total com o criador e com criaturas. Na segunda parte descreve o pecado do homem e da mulher; mostra como as opções erradas introduziram desequilíbrio e de morte. Na terceira parte (cf. Gn 3,8-24), as consequências para toda a criação; o homem livre e feliz fez escolhas erradas e introduziu sofrimento e de morte. O nosso texto pertence à terceira parte.
MENSAGEM - Deus descobre todos os fatos. Deus pergunta ao homem: “onde estás?” A resposta já é uma confissão de culpa: “como estava nu, tive medo e escondi-me”. A vergonha e o medo são sinal de uma perturbação interior, uma ruptura com a harmonia, de serenidade e de paz. Como? Desobedecendo a Deus. A segunda pergunta feita por Deus é retórica: “terias tu comido dessa árvore, da qual te proibira de comer?”. A “árvore do conhecimento do bem e do mal” – significa o orgulho, a autossuficiência, o prescindir de Deus e das suas propostas, o querer decidir por si só o que é bem e o que é mal, o pôr-se a si próprio em lugar de Deus, o reivindicar autonomia total em relação ao criador. É evidente que o homem “comeu da árvore proibida” – isto é, escolheu um caminho de orgulho e de autossuficiência em relação a Deus. Daí a vergonha e o medo. Ao defender-se, acusa a mulher e, ao mesmo tempo, acusa o próprio Deus (“a mulher que me deste por companheira deu-me do fruto da árvore e eu comi”. Adão representa a humanidade no egoísmo e na autossuficiência, que esqueceu os dons de Deus e vê em Deus um adversário; se instalou na covardia, na falta de solidariedade, no ódio. Escolher caminhos contrários aos de Deus é uma ruptura com Deus e com os irmãos.
Vem, depois, a “defesa” da mulher: “a serpente enganou-me e eu comi”. Entre os povos cananeus, a serpente estava ligada aos rituais de fertilidade e de fecundidade. Os israelitas abandonavam Jahwéh para seguir os rituais dos cananeus e assegurar a fecundidade dos campos e dos rebanhos. a serpente era, pois, o “fruto proibido”, que seduzia os crentes e os levava a abandonar a Lei de Deus. A “serpente” é, neste contexto, um símbolo literário de tudo aquilo que afastava os israelitas de Jahwéh. A resposta da “mulher” confirma que a humanidade prescindiu de Deus, ignorou as suas propostas. Achou, no seu egoísmo e autossuficiência, que podia encontrar a verdadeira vida à margem de Deus. Aí está a culpa de uma humanidade que pensou poder ser feliz em caminhos de egoísmo e de autossuficiência, à margem de Deus. Deus condena como falsos e enganosos esses cultos e essas tentações que seduziam os israelitas e os colocavam fora da dinâmica da Aliança e dos mandamentos. O nosso catequista jahwista sabe que a serpente é um animal miserável, que passa sua existência mordendo o pó da terra. O autor vai servir-se deste dado para pintar a condenação de tudo aquilo que leva os homens a afastar-se dos caminhos de Deus e a enveredar por caminhos de egoísmo e de autossuficiência. O que é que significa a inimizade e a luta entre a “descendência” da mulher e a
“descendência” da serpente? A interpretação judaica e cristã viu nestas palavras uma profecia messiânica: Deus anuncia que um “filho da mulher” (o Messias) acabará com as consequências do pecado e inserirá a humanidade numa dinâmica de graça.
Atenção: o autor sagrado não está falando de um pecado cometido nos primórdios da humanidade pelo primeiro homem e pela primeira mulher; mas está falando do pecado cometido por todos de todos os tempos… Ele está apenas ensinando que a raiz de todos os males está no fato de o homem prescindir de Deus e construir o mundo a partir de critérios de egoísmo e de autossuficiência.
ATUALIZAÇÃO
f O MAL vem de Deus, ou vem do homem? O mal nunca vem de Deus… Deus criou-nos para a vida e para a felicidade e deu-nos todas as condições para a felicidade plena.
f O mal resulta das nossas escolhas erradas, do nosso orgulho, do nosso egoísmo e autossuficiência. Quando o homem escolhe viver orgulhosamente só, ignorando as propostas de Deus e prescindindo do amor, constrói cidades de egoísmo, de injustiça, de prepotência, de sofrimento, de pecado…
f O caminhar longe de Deus leva o homem ao confronto e à hostilidade. Nasce, então, a injustiça, a exploração, a violência. As pessoas deixam de ser irmãos para passarem a ser ameaças ao próprio bem-estar, aos próprios interesses.
f Prescindir de Deus significa construir uma história de inimizade com o resto da criação. A natureza deixa de ser a casa comum a todos os homens como espaço de vida e de felicidade, para se tornar algo que eu uso e exploro em meu proveito próprio, sem considerar a sua dignidade, beleza e grandeza. Jesus nos apresentou o plano do Pai. Aprendemos com Ele a amar sem exceção e com radicalidade?
7. SALMO RESPONSORIAL 97 (98)
Cantai ao Senhor Deus um canto novo, porque ele fez prodígios!
• Cantai ao Senhor Deus um canto novo, / porque ele
fez prodígios! / Sua mão e seu braço forte e santo / alcançaram-lhe a vitória.
• O Senhor fez conhecer a salvação, / e às nações, sua
justiça; / recordou o seu amor sempre fiel / pela casa de Israel
• Os confins do universo contemplaram / a salvação do
nosso Deus. / Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira, / alegrai-vos e exultai!
10. EVANGELHO (Lc 1,26-38) Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
Naquele tempo, no sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem, prometida em casamento a um homem chamado José. Ele era da descendência de Davi e o nome da virgem era Maria. O anjo entrou onde ela estava e disse: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” Maria ficou perturbada com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação. O anjo, então, disse-lhe: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi. Ele reinará para sempre sobre os descendentes de seu pai Jacó, e o seu reino não terá fim”. Maria perguntou ao anjo: “Como acontecerá isso, se eu não conheço homem algum?” O anjo respondeu: “O Espírito virá sobre ti, e o poder do
Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso, o menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus. Também
Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice. Este já é o sexto mês daquela que era considerada estéril, porque para Deus nada é impossível”. Maria, então, disse: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra!” E o anjo retirou-se.
AMBIENTE - O texto pertence a um gênero literário chamado homologese. Este gênero não pretende ser um relato jornalístico e histórico de acontecimentos; mas é, sobretudo, uma catequese destinada a proclamar certas realidades salvíficas (que Jesus é o Messias, que Ele vem de Deus, que Ele é o “Deus conosco”). A homologese utiliza e mistura tipologias (fatos e pessoas do Antigo Testamento, encontram a sua correspondência em fatos e pessoas do Novo Testamento) e aparições apocalípticas (anjos, aparições, sonhos) para fazer avançar a narração e para explicitar determinada catequese sobre Jesus. Não interessa estar à procura de fatos históricos; interessa os ensinamentos sobre Jesus. A Galileia era considerada pelos judeus uma terra em permanente contato com as populações pagãs e onde se praticava uma religião heterodoxa, influenciada pelos costumes e pelas tradições pagãs. Daí a convicção dos mestres judeus de Jerusalém de que “da Galileia não pode vir nada de bom”. Quanto a Nazaré, era uma aldeia pobre e ignorada, completamente à margem dos caminhos de Deus e da salvação. Maria era “uma virgem desposada com um homem chamado José”. O casamento hebraico considerava o compromisso matrimonial em duas etapas: havia uma primeira fase, na qual os noivos se prometiam um ao outro (os “esponsais”); só numa segunda fase surgia o compromisso definitivo (as cerimônias do matrimônio propriamente dito)… Entre os “esponsais” e o rito do matrimônio, passava um tempo mais ou menos longo, durante o qual qualquer uma das partes podia voltar atrás, mas sofrendo
uma penalidade. Durante os “esponsais”, os noivos não viviam em comum; mas o compromisso que os dois assumiam tinha já um caráter estável, de tal forma que, se surgia um filho, este era considerado filho legítimo de ambos. A Lei de Moisés considerava a infidelidade da “prometida” como uma ofensa semelhante à infidelidade da esposa. E a união entre os dois “prometidos” só podia dissolver se com a fórmula jurídica do divórcio. José e Maria estavam, portanto, na situação de “prometidos”: ainda não tinham celebrado o matrimônio, mas os “esponsais”.
MENSAGEM - O termo “ave” com que o anjo se dirige a Maria, é mais do que uma saudação: é o eco dos anúncios de salvação à “filha de Sião”. A expressão “cheia de graça” significa que Maria é objeto da predileção e do amor de Deus. A outra expressão “o Senhor está contigo” é uma expressão que aparece com frequência ligada aos relatos de vocação no Antigo Testamento (vocação de Moisés; de Gedeão; de Jeremias) e que serve para assegurar ao “chamado” a assistência de Deus na missão que lhe é pedida. A visita do anjo destina-se a apresentar à jovem de Nazaré uma proposta de Deus. Essa proposta vai exigir uma resposta clara de Maria. Deus propõe que aceite ser a mãe de um “filho” especial, que ele se chamará “Jesus”. O nome significa “Deus salva”. Além disso, esse “filho” é apresentado pelo anjo como o “Filho do Altíssimo”, que herdará “o trono de seu pai David” e cujo reinado “não terá fim”. As palavras do anjo levam-nos à promessa feita por Deus ao rei David através das palavras do profeta Nathan; o “messias” libertador. O que é proposto a Maria é, pois, que ela aceite ser a mãe desse “messias” que Israel esperava, o libertador enviado por Deus ao seu Povo para lhe oferecer a vida e a salvação definitivas. Como Maria responde? A resposta começa com uma objeção… A objeção faz sempre parte dos relatos de vocação do Antigo Testamento (cf. Ex 3,11; 6,30; Is 6,5; Jer 1,6). É uma reação natural de um “chamado”, assustado com a perspectiva do compromisso com algo que o ultrapassa; mas é, sobretudo, uma forma de mostrar a grandeza e o poder de Deus que, apesar da fragilidade e das limitações dos “chamados”, faz deles instrumentos da sua salvação no meio dos homens e do mundo. Diante da “objeção”, o anjo garante a Maria que o Espírito Santo virá sobre ela e a cobrirá com a sua sombra. Este Espírito é o mesmo que foi derramado sobre os juízes; Gedeão; Jefté; Sansão, sobre os reis; David, sobre os profetas; os anciãos de Israel; Ezequiel, a fim de que eles pudessem ser uma presença eficaz da salvação de Deus no meio do mundo.
A “sombra” ou “nuvem” leva-nos, também, à “coluna de nuvem” que acompanhava a caminhada do Povo de Deus em marcha pelo deserto, indicando o caminho para a Terra Prometida da liberdade e da vida nova.
A questão é a seguinte: apesar da fragilidade de Maria, Deus vai, através dela, fazer-se presente no mundo para oferecer a salvação a todos os homens. O relato termina com a resposta final de Maria: “eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”. Afirmar-se como “serva” significa, mais do que humildade, reconhecer que se é um eleito de Deus e aceitar essa eleição, com tudo o que ela implica – pois, no Antigo Testamento, ser “servo do Senhor” é um título de glória, reservado àqueles que Deus escolheu, que ele reservou para o seu serviço e que ele enviou ao mundo com uma missão. Desta forma, Maria reconhece que Deus a escolheu, aceita com disponibilidade essa escolha e manifesta a sua disposição de cumprir, com fidelidade, o projeto de Deus.
ATUALIZAÇÃO
f Deus ama os homens e tem um projeto de vida plena para lhes oferecer. A história de Maria responde, de forma clara, a esta questão: é através de homens e mulheres atentos aos projetos de Deus que Deus atua no mundo, que Ele manifesta aos homens o seu amor, que Ele convida cada pessoa a percorrer os caminhos da felicidade e da realização plena. é através dos nossos gestos de amor, de partilha e de serviço que Deus transforma o mundo.
f Os instrumentos de que Deus: Maria era uma jovem de uma aldeia dessa “Galileia dos pagãos” de onde não podia “vir nada de bom”. Apesar disso, foi escolhida por Deus para desempenhar um papel primordial na etapa mais significativa na história da salvação. A história de Maria deixa claro que, na perspectiva de Deus, não são o poder, a riqueza, a importância ou a visibilidade social que determinam a capacidade para levar a cabo uma missão. Deus age através de homens e mulheres, independentemente das suas qualidades humanas. O que é decisivo é a disponibilidade e o amor com que se acolhem e testemunham as propostas de Deus.
f Confrontada com os planos de Deus, Maria responde com um “sim” total e incondicional. Naturalmente, ela tinha o seu programa de vida e os seus projetos pessoais; mas, diante do apelo de Deus, esses projetos pessoais passaram naturalmente e sem dramas a um plano secundário. Na atitude de Maria não há qualquer sinal de egoísmo, de comodismo, de orgulho, mas há uma entrega total nas mãos de Deus e um acolhimento radical dos caminhos de Deus. Que atitude assumimos
diante dos projetos de Deus: acolhemo-los sem reservas, com amor e disponibilidade, numa atitude de entrega total a Deus?
f É possível alguém entregar-se tão cegamente a Deus, sem reservas, sem medir os prós e os contras? Naturalmente, não se chega a esta confiança cega em Deus e nos seus planos sem uma vida de diálogo, de comunhão, de intimidade com Deus. Maria de Nazaré foi, certamente, uma mulher para quem Deus ocupava o primeiro lugar e era a prioridade fundamental. Maria de Nazaré foi, certamente, uma pessoa de oração e de fé, que fez a experiência do encontro com Deus e aprendeu a confiar totalmente n’Ele.
8. SEGUNDA LEITURA (Ef 1,3-6.11-12) Leitura da Carta de São Paulo aos Efésios
Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele nos abençoou com toda bênção do seu Espírito em virtude de nossa união com Cristo, no céu. Em Cristo, ele nos escolheu, antes da fundação do mundo, para que sejamos santos e irrepreensíveis sob seu olhar, no amor. Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por intermédio de Jesus Cristo, conforme a decisão de sua vontade, para o louvor de sua glória e da graça com que ele nos cumulou no seu Bem-amado. Nele também nós recebemos a nossa parte. Segundo o projeto daquele que conduz tudo conforme a decisão de sua vontade, nós fomos predestinados a sermos, para o louvor de sua glória, os que de antemão colocaram a sua esperança em Cristo.
AMBIENTE - Estamos por volta dos anos 58/60. Alguns vêem nesta carta uma espécie de síntese da teologia paulina, numa altura em que a missão do apóstolo está praticamente terminada no oriente. O texto que nos é hoje proposto aparece no início da carta. É parte de um hino litúrgico que deve ter circulado nas comunidades cristãs antes de ser enxertado aqui por Paulo. Este hino dá graças pela ação do Pai (cf. Ef 1,3-6), do Filho (cf. Ef 1,7-12) e do Espírito Santo (cf. Ef 1,13-14) no sentido de oferecer aos homens a salvação.
MENSAGEM - A ação de graças dirige-se a Deus, pois Ele é a fonte última de todas as graças concedidas aos homens. Essas graças atingiram os homens através do Filho, Jesus Cristo.
O Pai, no seu amor, elegeu-nos desde sempre “para sermos santos e irrepreensíveis “Santo” indica alguém que foi separado e consagrado a Deus, para o serviço de Deus; a palavra “irrepreensível” era usada para falar das vítimas oferecidas em sacrifício a Deus, que deviam ser imaculadas e sem defeito… Significa, pois, uma santidade (isto é, uma consagração a Deus) verdadeira e radical. Além de nos eleger, o Pai predestinou-nos “para sermos seus filhos adotivos”. Através de Cristo, o Pai ofereceu-nos a sua vida e integrou-nos na sua família na qualidade de filhos. O fim desta ação de Deus é o louvor da sua glória. “Eleição” e “adoção como filhos” resultam do imenso amor de Deus pelos homens – um amor que é gratuito, incondicional e radical. A morte de Jesus na cruz é o sinal evidente do amor de Deus pelos homens; e dessa forma, Deus ensinou-nos a viver no amor, no amor total e radical. Através de Cristo, Deus derramou sobre nós a sua graça, tornando-nos pessoas novas e diferentes, capazes de viver no amor. Assim, Deus manifestou-nos o seu projeto de salvação
e que consiste em levar-nos a uma identificação plena com Jesus (na sua ilimitada capacidade de amar e de dar vida), a uma unidade e harmonia totais com Jesus. Identificando-nos com Cristo e ensinando-nos a viver no amor total e radical, Deus reconciliou-nos consigo, com todos os outros e com a própria natureza. Da ação redentora de Cristo nasceu, pois, um Homem Novo, capaz de um novo tipo de relacionamento (não marcado pelo egoísmo, pelo orgulho, pela auto-suficiência, mas marcado pelo amor e pelo dom da vida) com Deus, com os outros homens e mulheres e com toda a criação. Dessa forma (e voltamos agora a retomar o texto que a liturgia deste dia nos propõe), em Cristo fomos constituídos filhos de Deus e herdeiros da salvação, conforme o projeto de Deus preparado desde toda a eternidade em nosso favor (vers. 11-12).
ATUALIZAÇÃO
f Deus tem um projeto de vida plena e total para os homens, um projeto que desde sempre esteve na mente de Deus. É muito importante termos isto em conta: não somos um acidente de percurso na evolução inexorável do cosmos, mas somos atores principais de uma história de amor que o nosso Deus sempre sonhou e que Ele quis escrever e viver conosco. No meio dos nossos sofrimentos, da nossa finitude, não esqueçamos que somos filhos amados de Deus, a quem Ele oferece a vida definitiva, a verdadeira felicidade.
f O nosso texto afirma, ainda, a centralidade de Cristo nesta história de amor. Jesus veio ao nosso encontro, cumprindo com radicalidade a vontade do Pai e oferecendo-se até à morte para nos ensinar a viver no amor.
Pe. Joaquim - Pe. Barbosa - Pe. Carvalho
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Solenidade da Imaculada Conceição
Homilia de D. Henrique Soares:
O tempo do Advento tem, sem dúvida alguma, um sabor mariano. É com a Virgem que melhor aprendemos como esperar o Sol que nasce da Aurora, o Cristo, nosso Deus! Por isso, é muito conveniente celebrar hoje a Solenidade da Imaculada Conceição de Maria, a Virgem.
O que a Igreja crê e celebra neste mistério? A Escritura Santa nos ensina que a humanidade fora criada por Deus para a comunhão com ele, para ser feliz convivendo com ele, com ele construindo a vida e o mundo. Mas, infelizmente, desde o início da história humana e até hoje, nossa raça foi dizendo “não” ao sonho de Deus: quisemos e queremos ainda ser como deuses, conhecedores do bem e do mal (cf. Gn 3,4s); queremos viver a vida de modo autônomo, como se a existência fosse nossa e não um dom recebido de Deus. Se não dizemos, pensamos muitas vezes: a vida é minha; faço como eu quero! O resultado dessa atitude tem sido trágico: tornamo-nos uma humanidade ferida, esfacelada, num mundo também ferido e esfacelado. Somos todos presa de um enorme fechamento para Deus, uma desconfiança nele, uma tendência de não percebê-lo… por isso, somos profundamente desequilibrados no nosso modo de nos ver, de ver a vida, de nos relacionar com os outros e com o mundo. Somos um poço de contradições, de paixões, de anseios desencontrados e sentimentos muitas vezes destrutivos… Somos, pois, profundamente feridos; feridos de morte, feridos até a morte! É esta situação miserável que a Igreja denomina “pecado original”, pecado que já nos marca desde o primeiro momento de nossa existência: “Minha mãe já concebeu-me pecador” (Sl 50,7). É desta situação miserável, sem saída, que Cristo nos arranca com a sua encarnação, sua vida, sua morte e ressurreição, com o dom do seu Espírito: “Todos pecaram e estão privados da glória de Deus e são justificados gratuitamente em virtude da redenção realizada por Jesus Cristo” (Rm 3,23s).
Pois bem, a Igreja crê firmemente que a Toda Santa Virgem Maria, desde o primeiro momento em que foi concebida no seio de sua mãe, foi preservada por Deus desta solidariedade com esta situação de pecado. Nós, já nascemos marcados de morte; ela, desta marca de pecado foi preservada; nós, precisamos ser arrancados da lama do pecado graças à cruz do Cristo; ela, pela cruz do Cristo foi liberta desde a origem e sequer foi tocada por esta lama maldita; nós fomos redimidos porque lavados desta lama, ela, foi ainda mais perfeitamente redimida porque, pelos méritos da Paixão do Senhor, sequer experimentou esta situação de pecaminosidade. Desde o ventre materno, desde o primeiro instante de sua concepção, o Senhor a libertou, graças aos méritos de Cristo. Ela, a Virgem, pode ser chamada Toda Santa, isto é, Toda Santificada, ela pode cantar as palavras da profecia de Isaías: “Com grande alegria rejubilo-me no Senhor, e minha alma exultará no meu Deus, pois me vestiu de justiça e salvação, como a noiva ornada de suas jóias!”
A Igreja crê nesta Concepção Imaculada da Mãe de Jesus e com ela se alegra. E crê fundamentada na Escritura Sagrada. Não á a Palavra de Deus que afirma que o Senhor colocou uma inimizade de morte entre a Serpente e a Mulher, entre a descendência de Serpente e a da Mulher? Quem é esta Mulher? Não é aquela a quem Jesus chama Mulher em Caná e ao pé da cruz? Não é aquela de quem São Paulo diz: “Quando chegou a plenitude dos tempos, enviou Deus o seu Filho nascido de Mulher? Como, pois, poderia estar sob o domínio do pecado, fruto da serpente, a Mulher de quem nasceria o Cordeiro sem mancha, que tira o pecado do mundo? Estejamos atentos ainda no modo como Gabriel saudou a Virgem,
no Evangelho: ele lhe muda o nome! Não diz”: alegra-te, Maria!”, mas “Alegra-te, Cheia de Graça!” Cheia de graça, kecharitomene, do verbo charitô, agraciar. Alegra-te, ó Toda Cumulada Pela Graça, Alegra-te, ó Mar de Graça, ó possuída totalmente pela graça! Em ti, Virgem Maria, não há o mínimo lugar, a mínima brecha para a “des-graça” do pecado! – É isto que significam as palavras de Gabriel! Podem crer: Deus juntou toda água um dia e chamou de mar; Deus juntou toda graça outro dia… e chamou Maria!
A Virgem não é dona da graça; ela a recebeu totalmente. A Virgem não é imaculada por seus próprios méritos, mas pelos méritos daquele que, nascido de suas entranhas benditas, venceu a antiga Serpente e destruiu o antigo Inimigo. Observemos que esta idéia aparece na segunda leitura da Missa desta solenidade. O que diz o Apóstolo? O Pai “nos escolheu em Cristo, antes da fundação do mundo, para que sejamos santos e irrepreensíveis sob o seu olhar, no amor. Ele nos predestinou… por intermédio de Jesus Cristo (Ef 1,4s). Se todos somos fruto de um sonho eterno de Deus, se todos somos predestinados em Cristo desde antes da fundação do mundo, se o Senhor conheceu nossos dias antes mesmo que um só deles existisse, pois bem: em Cristo, Deus, o Pai, preservou a Mãe do seu Filho do pecado, graças ao seu Filho! Que nossos irmãos protestantes se alegrem conosco pela Imaculada Conceição de Maria: ela é bíblica, ela exalta enormemente a grandeza abundante da graça de Cristo, único Salvador! São Paulo diz que “todos pecaram e estão privados da glória de Deus”; assim estaria a Virgem sem a graça de Cristo; mas, disso foi libertada no primeiro momento de sua existência, graças a Cristo!
Esta é a beleza desta festa: o triunfo da graça, celebrar a graça de Cristo que age antes mesmo do nascimento histórico de Cristo! Que graça tão grande, que Salvador tão potente, que Deus tão previdente! E para nós, que alegria contemplar o mistério, vislumbrar o mistério, mergulhar no mistério! Hoje, a Virgem foi concebida livre do pecado; hoje, começou a raiar a Aurora do Dia sem fim; hoje surgiu a puríssima Estrela d’Alva que anuncia o Sol, que é o Cristo, nosso Deus! A Igreja, exultante de alegria, tem palavras lindas na celebração litúrgica deste hoje. No Ofício Divino, ela assim se dirige à Virgem Toda Santa: “Com a vossa Imaculada Conceição, Virgem Maria, um anúncio de alegria percorreu o mundo inteiro” e, mais adiante, no Ofício, continua, admirada: “Toda bela sois, Virgem Maria, sem mancha original! Sois a glória de Sião, a alegria de Israel e a flor da humanidade”. E, imaginando a resposta da Virgem, coloca nos seus lábios estas palavras que ela dirige ao Senhor: “Foi nisto que eu vi, porque vós me escolhestes! Porque não triunfou sobre mim o inimigo, porque vós me escolhestes!” Isso mesmo: mais que ninguém, a Virgem é devedora a Cristo: ele a escolheu, ele a preservou, ele a sustentou, ele teve por ela uma predileção inigualável!
Alegremo-nos nós também! Em Cristo, o pecado pode ser vencido! A Conceição Imaculada de Maria é sinal belíssimo desta vitória! Alegremo-nos, porque a Imaculada Conceição de Nossa Senhora é o feliz princípio e o primeiro albor da salvação que o Senhor Jesus nos traz! Bendita seja a cruz de Jesus, que antes de ser fincada no Calvário, já libertou com seus raios a Virgem de todo pecado! A Jesus, fruto bendito, do bendito ventre da bendita Virgem Maria, a glória pelos séculos dos séculos. Amém.
============---------------========== Cheia de Graça =========
Nesse tempo de Advento, a caminho do Natal de Jesus, somos convidados a olhar para Maria, a IMACULADA, e reconhecer nela o modelo de como acolher Jesus, que está chegando.
As leituras nos falam de duas Mulheres: Eva e Maria e do Plano de Deus, no qual Maria foi inserida:
A 1a Leitura nos apresenta o episódio do Pecado Original: A vitória da Mulher e de sua descendência contra a serpente (Gn 3, 9-15)
Esse texto não devemos tomá-lo ao pé da letra. Com ele o autor sagrado quer explicar a origem do mal no mundo. Ele vê ao redor de si a opressão, as injustiças e violências.
Será que foi esse o mundo criado por Deus?
A resposta é dada por imagens que devem ser interpretadas:
- Foi comido um fruto proibido:
O homem não aceitou sua condição de criatura e tomou o lugar de Deus.
- Essa autossuficiência é comparada a uma serpente que nos dá uma idéia falsa de Deus e nos leva a escolher o mal.
- A "nudez" (a condição de criatura) maravilhosa no corpo e na mente, depois do pecado, começa a causar vergonha.
- O homem não está no seu lugar: não considera mais Deus um amigo com o qual passeia no jardim e passa a vê-
lo como adversário e o evita (se esconde).
- O pecado rompe a confiança entre as pessoas: Adão acusa Eva; Eva culpa a serpente...
- A Luta entre a "serpente" e o homem continuará até o fim do mundo, mas a descendência da mulher prevalecerá e esmagará a cabeça da serpente.
A 2ª Leitura é um Hino de louvor a Deus pelas maravilhas por ele realizadas em favor dos homens. (Ef 1,3-6;11-12)
No Evangelho, a saudação do anjo a Maria nos faz entender quem é o Filho de Maria (Lc 1,26-38)
O texto não um relato histórico, mas uma CATEQUESE, destinada a proclamar certas realidades salvíficas:
- O Anúncio do nascimento de um menino é freqüente na Bíblia e revela que ele é um dom de Deus...
- O Messias é pobre entre os pobres: Num povoado desconhecido da Galiléia...
A uma mulher virgem (para uma mulher judia não ter filhos era uma vergonha)
- O Diálogo do anjo a Maria:
> "Ave Cheia de Graça": A Voz dos profetas na boca do anjo: Realizam-se todas as promessas: "Uma Virgem conceberá..."
> Troca o nome: "Cheia de Graça": Quando Deus troca o nome, destina a uma missão.
> Anúncio do nascimento confirma a profecia feita a Davi: Jesus é o Messias esperado, cujo reino será eterno.
> Sobre Maria pousou a "sombra" do Altíssimo: O próprio Deus se tornou presente nela.
É uma profissão de fé na divindade do filho de Maria.
> "Eis aqui a serva...": Maria reconhece que Deus a escolheu, aceita com disponibilidade essa escolha e manifesta sua disposição de cumprir, com fidelidade o Plano de Deus;.
+ O que esta festa nos diz?
- Deus ama os homens e tem um projeto de vida plena para lhes oferecer.
- Como Deus intervém na história e concretiza essa oferta de salvação?
A história de Maria responde:
Através de pessoas atentas aos seus projetos e de coração disponível para o serviço dos irmãos,
Deus atua no mundo, manifesta aos homens o seu amor e convida cada pessoa a percorrer os caminhos da felicidade e da realização plena.
- Os instrumentos de Deus na realização de seus planos?
Deus age através de pessoas, independentemente de suas qualidades humanas.
O que é decisivo é a disponibilidade e o amor com que acolhem e testemunham as propostas de Deus.
- Como responder aos apelos de Deus?
Confrontada com os planos de Deus, Maria responde com um "Sim" total e incondicional, renunciando seu programa de vida e os seus projetos pessoais.
- Como Maria chegou a esta confiança incondicional em Deus?
. Com uma vida de diálogo, de comunhão, de intimidade com Deus.
. Deus ocupava o primeiro lugar e era a sua prioridade fundamental.
. Era uma pessoa de oração e de fé, que fez a experiência do encontro com Deus e aprendeu a confiar totalmente nele.
* No meio da agitação de todos os dias, encontro tempo e disponibilidade para ouvir Deus, para viver em
comunhão com ele, para tentar perceber os seus sinais nas indicações que ele me dá dia a dia?
Como você está se preparando para o Natal? Imitar Maria na sua fidelidade à Vontade de Deus, é o melhor caminho para um Natal mais cristão... Pe. Antônio G.
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PARA A CELEBRAÇÃO DA PALAVRA:
LOUVOR: (QUANDO O PÃO CONSAGRADO ESTIVER SOBRE O ALTAR)
à COM JESUS, POR JESUS E EM JESUS,NA FORÇA DO ESPÍRITO SANTO, LOUVEMOS AO PAI:
T: Alegres aguardamos o renascer de Vosso Filho em nossos corações.
à Senhor, nosso Deus e Pai, nós vos louvamos pela vossa bondade. Desde o começo do mundo vos revelastes Deus de amor e por meio dos profetas alimentastes nossa esperança de nos enviar o Salvador. Hoje celebramos a imaculada conceição de Maria, A Nova Eva, a Mãe da nova Criação. Pai, que o renascer de vosso Filho entre nós, nos transforme.
T: Alegres aguardamos o renascer de Vosso Filho em nossos corações.
à Senhor, nosso Deus, bendito seja o Vosso nome sobre em todo o universo. Grande é vosso amor nos enviando vosso Filho para nos guiar ao Vosso Reino. Pai, agradecemos pela nossa vida, pelo nosso batismo e pela esperança da vida eterna.
T: Alegres aguardamos o renascer de Vosso Filho em nossos corações.
à Senhor, nosso Deus e Pai, enviai o Espírito Santo sobre nós, para que nos transformemos e tenhamos força e coragem de levar vosso nome a todos os nossos irmãos que não vos conhecem ou que vos abandonaram. Que o Cristo que renasce seja luz de justiça, de paz, de amor para todos os povos.
T: Alegres aguardamos o renascer de Vosso Filho em nossos corações.
à PAI NOSSO... Paz... Cordeiro de Deus...